quarta-feira, 9 de setembro de 2009

FREIO DE OURO – HISTÓRIA, CULTURA E ESPORTE

“Era um pingo!” Assim, só assim, Don Vilson Charlat Souza, define Itaí Tupambaé. Nascido em setembro de 77, em 83, antes de fechar três anos, O PRIMEIRO CAMPEÃO DO FREIO DE OURO.
Em 1932 é fundada a Associação de Criadores de Cavalos Crioulos (ACCC) e Bagé, hoje chamada Associação Brasileira de criadores de Cavaloes Crioulos (ABCCC) sediada em Pelotas. Nesta ocasião começa a se formar o standard racial do Cavalo Crioulo, hoje símbolo do Rio Grande do Sul. As exposições de animais da época mostravam cavalos pesados, gordos, onde a aparência dominava o espírito da competição. As provas funcionais eram deixadas para as carreiradas de fim de semana, festas campeiras, provas de 21 dias (doma de 21 dias).
Em 1971, o chileno La Invernada Aniversário, durante a Exposição de Palermo na Argentina, é vendido para o Brasil, marcando um novo panorama na raça Crioula, trazendo um sangue Chileno, há muito selecionado por características funcionais. Em breve começam a nascer no Brasil, os filhos de Aniversario, em geral, mais leves, mais “mansos”, e com instinto “ganadero”. Estes fatos dão início a um grande debate, em relação a tal “Morfologia Funcional”.
Atentos a necessidade da seleção racial não só morfológica, mas também funcional, em Jaguarão, um grupo de Criadores “iluminados” começam a preparar a PRIMEIRA EXPOSIÇÃO FUNCIONAL DE JAGUARÃO, em 1978. A disputa ocorreu em duas provas de igual valor, a primeira chamada Morfologia, onde o animal é avaliado pelo selo racial, de acordo com o standard racial, e a segunda, Funcional, avaliado em um conjunto de movimentos associados ao trabalho do campo, nesta etapa, eram provas com e sem gado, onde eram avaliados aspectos como submissão, velocidade e aptidão vaqueira. Assim foi gerado o “embrião” do Freio de Ouro.
Para julgar esta Primeira Exposição, é convidado o criador de Uruguaiana Flavio Bastos Tellechea, um homem do cavalo, como se diz na fronteira, uma autoridade no assunto, julgando a cavalo. O criador, ao lado de seu irmão Roberto, do famoso sangue BT. No quarto ano de provas, Flavio resolve mudar de posição, e no lugar de jurado, passa a participar da prova com os cavalos BT, e ele mesmo apresentando alguns animais.
A III Exposição Funcional já mostra a importância que vinha adquirindo, tendo com visitante mais ilustre, o Presidente da República João Batista Figueiredo.
Estas provas formavam um acampamento, que se tornara uma “grande assembléia”, onde os aspectos e parâmetros da prova era discutidos paulatinamente. O modelo de avaliação era móvel, o único parâmetro fixo, era a pontuação, que foi decidido na II Exposição e segue assim até hoje, que é o peso da provas, sendo 10 pontos a Morfologia e 15 pontos a Funcional.
No outono de 1982 começam a “classificatórias” para a prova que ocorreria em Esteio, na Expointer, em homenagem aos 50 anos da ABCCC, o Freio de Ouro.
Na final em Esteio, 12 cavalos, em geral, todos entre os 3 e 5 anos, apresentados por seus domadores ou proprietários, entre eles o Flavio Bastos Tellechea, com BT Ópio, classificado em primeiro lugar, seguido de perto pelo Itaí, classificado de bocal, e enfrenado “as pressas” para final, com o domador Vilson Souza.
Nesta edição não tinha gado, as provas eram andadura, figura (rédeas), volta sobre patas, esbarrada, giro e escaramuça livre, esta última, uma prova onde o domador podia destacar habilidades de seu cavalo com movimentos livres.
Em 83, a prova foi chamada “Freio do Ano” – Roberto Bastos Tellechea, criador que havia falecido no ano anterior. E em 84, segue o nome de Roberto, e fixa-se o nome Freio de Ouro.
Por está época, nasce o primeiro regulamento funcional da ABCCC, reunidos na Estância Santa Úrsula, em Bagé, de Dirceu Dornelles Pons, o Ceceu como é mais conhecido, criadores e comissão técnica, em assembléia “a campo”, junto a peões e domadores, repetem os movimentos das provas, e definem critérios de avaliação.
Nesta época a prova já está consagrada! Criadores de toda parte passam a viver o “Mundo do Freio de Ouro”. A disputa cada vez mais acirrada! Prova a prova, ponto a ponto, a cada momento uma surpresa!
Em 90 começam as credenciadoras. São 14 no primeiro ano. Butiá Arunco, Freio de Ouro em 88, da mesma maneira que em 89, tenta o bicampeonato, nesta ocasião quem leva a melhor é o Nobre Tupambaé, irmão inteiro de Itaí, por sinal, o único irmão inteiro de um Freio de Ouro, a chegar ao Freio de Ouro, e o bicampeonato, tentado por Arunco e por tantos outros, este sim, segue “inatingível”, ao menos, até a última edição!
Em 93, mais um marco na história, BT Butiá chega à final do Freio de Ouro, tendo em seu treinamento a acessoria de Carlos Deleu, treinador paulista de Cavalos de Rédeas, o primeiro cavalo do Freio, com “Doma racional” ou Paulista. Mas o resultado só é alcançado no ano seguinte, BT Butiá, Freio de Ouro 1994.
Eduardo Azevedo, o Dado, em 96 também estuda com Deleu, e chega ao Freio de Ouro com Debochado do Quartel Mestre, seguido de perto por BT Balconero e BT Debret (Prata e Bronze), ambos com treinamento assessorado por Jango Salgado, paulista, e renomado mundialmente como treinador de rédeas.
O sucesso da prova cresce de forma exponencial, em 1996, já eram 60 finalistas, escolhidos em 32 credenciadoras, entre 691 animais, que ainda participaram de 8 semifinais regionais.
Por está época nasce a classificatória de Inéditos, prova voltada aos animais que nunca participaram de alguma edição do Freio de Ouro, e que classifica seus campeões a final do Freio de Ouro. Destas provas saíram os campeões de 97, BT Inteiro do Junco, 98, Campana Farrapo, 99 Consuelo do Infinito e no ano 2000, Reservada de Santa Edwiges. Campana Farrapo, filho de BT Brasão do Junco, é o único filho de um Freio de Ouro, a atingir o mesmo feito do pai, o mesmo Campana, também já foi Freio de Prata e Bronze.
Em 1998, a cabanha Santa Edwiges, atinge um feito único até hoje na raça, Freio de Ouro, Prata e Bronze nesta edição da prova. Ouro e Bronze nas éguas, com Punhalada e Pólvora de Santa Edwiges, e Prata nos cavalos, com Quero Quero. Junto a Cabanha Santa Edwiges, consagra também seu domador e treinador, Milton Castro, o “Alemão”, o maior campeão do Freio de Ouro até hoje!
Nestes anos todos, foram surgindo novos treinadores, algum proprietários, outros profissionais da doma! A renovação é constante e a necessidade de aperfeiçoamento e profissionalização dos mesmos, é cada vez maior! Em 2004, este fato é comprovado com a vitória de LS Balaqueiro, Freio de Ouro nos machos, apresentado por Gustavo Delabary, pupilo do Seu Vilson Souza, com o mesmo cavalo que o Vilson já havia beliscado uma final de Freio de Ouro, e ele estava lá, na arquibancada, torcendo pelo discípulo!
Em 2005, o Freio de Ouro dos Machos, vai para Largo da 3J, apresentado por Daniel Teixeira, que em outra ocasião, havia sido o ginete mais novo a participar de uma final de Freio de Ouro, aos 14 anos. Nas fêmeas, o Ouro vai para JÁ Xalalá, outra vez o “piloto” é o Alemão Milton Castro.
2006, o Freio de Ouro é vencido pelo ginete Zeca Macedo nos machos, com o Cavalo Ganadero da Harmonia, o mesmo ginete, chega ao ouro novamente em 2007 com Senhor de Santa Theresa, da Cabanha Capão da Lagoa, de Cidreira.
Nas fêmeas de 2006, BT Jovem guarda. Em 2007, mais uma vez Milton Castro, agora com Bonita de Santa Edwiges, “não tão bonita” quanto o nome, largou mal na parte morfológica, mas “voou baixo” como dizem, e levou o Ouro.
Em 2008, nas fêmeas, um prêmio mais que merecido, Claudio Fagundes leva Ouro e Prata para a cidade de Santiago, com uma parelha de gateadas da Itaó, para dar inveja! Infância e Jura do Itaó, duas éguas lindas e parecidíssimas, do criador Cássio Bonotto.
Nos machos, “a peleia é das brabas”. Largo da 3J, Ouro em 2005, desta vez leva o Bronze, Senhor de Santa Thereza, ouro em 2007 fica com a Prata, e o Ouro vai para Rodopio de São Pedro.
O que nos espera para edição de 2009? Cavalo bom tem de sobra! Este ano, além dos classificados nas regionais, entram direto na Final do Freio, os campeões do Freio de Ouro Internacional, o Freio da FICCC (Federação Interamericana de Criadores de Cavalos Crioulos), escolhidos este ano em Esteio, como publicamos na primeira edição do Jornal da Querência.
O Freio de Ouro da FICCC foi vencido por nada menos que o Ouro e Prata do Freio de Ouro, Senhor de Santa Thereza, desta vez montado por Daniel Teixeira. Será ele o primeiro BICAMPEÃO de um Freio de Ouro?


MV Henrique R. Noronha
Médico Veterinário
Apoio: Pampa Produtos Veterinários – Distribuidora Organnact Fitovet

Fontes consultadas:
Livro: Freio de Ouro, uma história a Cavalo, de Renato Dalto, Santa Maria, Palotti, 2006.
Sites: www.abccc.com.brwww.cavalocompleto.com.br

ARTIGO PUBLICADO NO "JORNAL DA QUERÊNCIA" edição 3.

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