quinta-feira, 23 de julho de 2009

ARTRITE TRAUMÁTICA

Artrite é um termo que define de forma básica qualquer processo inflamatório que atinge articulações. Isto pode ocorrer nas estruturas que compõe as articulações de forma isolada ou em conjunto. A artrite serosa ou traumática tem origem em traumas como coices ou pancadas em obstáculos durante o salto, ou ainda traumas indiretos decorrentes de má conformação dos membros que acabam acarretando em sobrecarga das estruturas articulares.
A artrite traumática inclui uma série de episódios únicos ou repetidos de trauma, podendo incluir quadros de sinovite (inflamação da membrana sinovial), capsulite (inflamação da cápsula articular fibrosa), torção (danos ao ligamentos específicos associados a articulação), fraturas intra-articulares e ainda rompimento dos meniscos (articulações femoro-tibiais).
Dividi-se as artrites traumáticas em três tipos, para facilitar o entendimento das causas e tratamento, são elas: “Tipo 1- sinovite e capsulite traumáticas sem distúrbios nas cartilagens articulares ou rompimento das estruturas de apoio principais. Tipo 2- trauma com rompimento e danos à cartilagens articulares ou ruptura completa das estruturas de apoio principais. Tipo 3- osteoartrite pós-traumática, onde há grande dano tecidual” (Stashak, 1994).
Neste artigo trataremos com mais detalhes apenas a sinovite e capsulite traumática de tipo 1.
A sinovite e capsulite traumáticas podem ocorrer como resultado de episódios únicos ou múltiplos de trauma a uma articulação. A situação clínica mais comum ocorre nas articulações do carpo ou boleto dos cavalos jovens.
Os traumas continuados ou repetidos (traumas de utilização), não são um fato isolado, mas um conceito etiológico central dos problemas de carpo e boleto. As corridas provocam estresse repetido nos tecidos duros e moles da articulação, um condicionamento inadequado leva a fadiga precoce e superextensão do carpo.
A seqüência dos eventos que acarretam as lesões de boleto é incerta, porém, é provável que a efusão sinovial em associação com a sinovite ocorra inicialmente, resultando em um problema menor. Se o problema não for reconhecido, sob um treinamento contínuo, ocorre o espessamento da cápsula articular fibrosa e as alterações degenerativas progridem.
A carpite se apresenta com uma claudicação evidente e encurtamento da fase cranial do passo devido à diminuição da flexão do carpo. Pode ocorrer um inchaço variável na cápsula articular e tecidos periarticulares e ainda, há uma tendência do cavalo manter o carpo ligeiramente flexionado, quando em estação.
A pressão digital na articulação pode causar dor, e a flexão do carpo pode ser utilizada para definir o enrijecimento da articulação e o grau de dor.
Animais com sinovite-capsulite na articulação metacarpofalangeana movem-se com andar entrecortado, se estiver afetado bilateralmente, se apenas um membro estiver afetado, o cavalo apresentará uma claudicação evidente nesse membro.
É recomendado o uso de radiografia para determinar se há crescimento de substâncias ósseas e para avaliar a sua relação com as superfícies articulares. Os casos em estágio inicial não apresentam alterações radiográficas.
O diagnóstico da carpite é considerado simples, com base nos sintomas descritos anteriormente, todavia, a radiografia é importante para eliminar as fraturas intra-articulares, bem como para avaliar outras possíveis alterações patológicas.
Em relação ao tratamento, as possibilidades são diversas e podem servir para cura ou apenas para proporcionar condições mínimas do animal realizar determinado exercício. O repouso e a imobilização são de grande utilidade nos casos agudos da inflamação e lesão capsular, porém a “industria do cavalo”, freqüentemente, impede o uso adequado desta técnica, que em muitos casos permitiria uma recuperação completa.
De qualquer forma, o repouso ou imobilização devem permitir flexões passivas, a fim de evitar atrofia muscular ou formação de adesões no interior da articulação. Ainda recomenda-se hidroterapia fria ou gelo, principalmente em casos agudos.
Os corticosteróides intra-articulares são largamente utilizados nestas situações. Seu uso é justificado por serem os antiinflamatórios de maior potência disponíveis, e que auxiliam na volta da membrana sinovial ao seu estado normal, além de reduzir o nível de subprodutos da inflamação nocivas à articulação. Os sintomas da inflamação diminuem de forma muito marcada, logo após a aplicação destes corticosteróides intra-articulares.
Estudos em coelhos mostram que as injeções de corticóides tem efeito nocivo aos condrócitos e ainda ocorre a depleção das glicosaminoglicanas da cartilagem articular. Ainda foi demonstrado uma diminuição da elasticidade e no conteúdo de glicosaminoglicanas. Porém, estudos realizados em humanos e eqüinos têm enfatizado que os efeitos negativos dos corticóides, na síntese de proteinoglicanas, são mais que compensados pelos outros efeitos favoráveis, inibindo a quebra das proteinoglicanas, induzidas por enzimas lisossomais e prostaglandinas.
O uso de corticosteróides intraarticulares foi considerado controverso, e condenado por diversos autores, porém Stashak (2003) cita novos estudos, onde os corticosteróides intraarticulares mostram-se recomendados, em algumas lesões articulares, pois seus efeitos maléficos, como a depleção dos condrócitos por exemplo, são expressivamente menores que seus benefícios, como a grande potência na inibição da atividade das células inflamatórias, incluindo neutrófilos, monócitos e macrófagos.
O mesmo autor cita que baixas doses de corticosteróides afetam a fagocitose dos neutrófilos, a estabilidade da membrana lisossomal, inibição de enzimas, inibição da produção de prostaglandina e ainda afetam as atividades específicas de algumas proteinases.
Stashak (2003) ainda descreve estudos realizados em humanos, onde, verificou-se que a expressão de RNA mensageiro para colagenase e o escore histológico de inflamação foram diminuídos após a administração de Triancinolona na articulação, mas o corticosteróide não suprimiu as atividades da estromilisina, que ativa as células sinoviais de eqüinos, in vitro.
O mesmo autor ainda relata que a perda progressiva de proteinoglicanas, colágeno e síntese de proteínas só foram observados em aplicações de altas dosagens de corticosteróides, por períodos superiores a doze semanas.
O hialuronato de sódio mostrou grande vantagem em seu uso sobre os corticóides puros. Foi demonstrado que o ácido hialurônico age como um lubrificante por contigüidade das membranas sinoviais e também foi proposto que ele influencia a composição do líquido sinovial por interferência espacial.


Henrique Noronha
Médico Veterinário CRMV RS 09144
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