quarta-feira, 25 de julho de 2007

ARTRITE TRAUMÁTICA

Artrite é um termo que define de forma básica qualquer processo inflamatório que atinge articulações. Isto pode ocorrer nas estruturas que compõe as articulações de forma isolada ou em conjunto. A artrite serosa ou traumática tem origem em traumas como coices ou pancadas em obstáculos durante o salto, ou ainda traumas indiretos decorrentes de má conformação dos membros que acabam acarretando em sobrecarga das estruturas articulares.
A artrite traumática inclui uma série de episódios únicos ou repetidos de trauma, podendo incluir quadros de sinovite (inflamação da membrana sinovial), capsulite (inflamação da cápsula articular fibrosa), torção (danos ao ligamentos específicos associados a articulação), fraturas intra-articulares e ainda rompimento dos meniscos (articulações femoro-tibiais).
Dividi-se as artrites traumáticas em três tipos, para facilitar o entendimento das causas e tratamento, são elas: “Tipo 1- sinovite e capsulite traumáticas sem distúrbios nas cartilagens articulares ou rompimento das estruturas de apoio principais. Tipo 2- trauma com rompimento e danos à cartilagens articulares ou ruptura completa das estruturas de apoio principais. Tipo 3- osteoartrite pós-traumática, onde há grande dano tecidual” (Stashak, 1994).
Neste artigo trataremos com mais detalhes apenas a sinovite e capsulite traumática de tipo 1.
A sinovite e capsulite traumáticas podem ocorrer como resultado de episódios únicos ou múltiplos de trauma a uma articulação. A situação clínica mais comum ocorre nas articulações do carpo ou boleto dos cavalos jovens.
Os traumas continuados ou repetidos (traumas de utilização), não são um fato isolado, mas um conceito etiológico central dos problemas de carpo e boleto. As corridas provocam estresse repetido nos tecidos duros e moles da articulação, um condicionamento inadequado leva a fadiga precoce e superextensão do carpo.
A seqüência dos eventos que acarretam as lesões de boleto é incerta, porém, é provável que a efusão sinovial em associação com a sinovite ocorra inicialmente, resultando em um problema menor. Se o problema não for reconhecido, sob um treinamento contínuo, ocorre o espessamento da cápsula articular fibrosa e as alterações degenerativas progridem.
A carpite se apresenta com uma claudicação evidente e encurtamento da fase cranial do passo devido à diminuição da flexão do carpo. Pode ocorrer um inchaço variável na cápsula articular e tecidos periarticulares e ainda, há uma tendência do cavalo manter o carpo ligeiramente flexionado, quando em estação.
A pressão digital na articulação pode causar dor, e a flexão do carpo pode ser utilizada para definir o enrijecimento da articulação e o grau de dor.
Animais com sinovite-capsulite na articulação metacarpofalangeana movem-se com andar entrecortado, se estiver afetado bilateralmente, se apenas um membro estiver afetado, o cavalo apresentará uma claudicação evidente nesse membro.
É recomendado o uso de radiografia para determinar se há crescimento de substâncias ósseas e para avaliar a sua relação com as superfícies articulares. Os casos em estágio inicial não apresentam alterações radiográficas.
O diagnóstico da carpite é considerado simples, com base nos sintomas descritos anteriormente, todavia, a radiografia é importante para eliminar as fraturas intra-articulares, bem como para avaliar outras possíveis alterações patológicas.
Em relação ao tratamento, as possibilidades são diversas e podem servir para cura ou apenas para proporcionar condições mínimas do animal realizar determinado exercício. O repouso e a imobilização são de grande utilidade nos casos agudos da inflamação e lesão capsular, porém a “industria do cavalo”, freqüentemente, impede o uso adequado desta técnica, que em muitos casos permitiria uma recuperação completa.
De qualquer forma, o repouso ou imobilização devem permitir flexões passivas, a fim de evitar atrofia muscular ou formação de adesões no interior da articulação. Ainda recomenda-se hidroterapia fria ou gelo, principalmente em casos agudos.
Os corticosteróides intra-articulares são largamente utilizados nestas situações. Seu uso é justificado por serem os antiinflamatórios de maior potência disponíveis, e que auxiliam na volta da membrana sinovial ao seu estado normal, além de reduzir o nível de subprodutos da inflamação nocivas à articulação. Os sintomas da inflamação diminuem de forma muito marcada, logo após a aplicação destes corticosteróides intra-articulares.
Estudos em coelhos mostram que as injeções de corticóides tem efeito nocivo aos condrócitos e ainda ocorre a depleção das glicosaminoglicanas da cartilagem articular. Ainda foi demonstrado uma diminuição da elasticidade e no conteúdo de glicosaminoglicanas. Porém, estudos realizados em humanos e eqüinos têm enfatizado que os efeitos negativos dos corticóides, na síntese de proteinoglicanas, são mais que compensados pelos outros efeitos favoráveis, inibindo a quebra das proteinoglicanas, induzidas por enzimas lisossomais e prostaglandinas.
O uso de corticosteróides intraarticulares foi considerado controverso, e condenado por diversos autores, porém Stashak (2003) cita novos estudos, onde os corticosteróides intraarticulares mostram-se recomendados, em algumas lesões articulares, pois seus efeitos maléficos, como a depleção dos condrócitos por exemplo, são expressivamente menores que seus benefícios, como a grande potência na inibição da atividade das células inflamatórias, incluindo neutrófilos, monócitos e macrófagos.
O mesmo autor cita que baixas doses de corticosteróides afetam a fagocitose dos neutrófilos, a estabilidade da membrana lisossomal, inibição de enzimas, inibição da produção de prostaglandina e ainda afetam as atividades específicas de algumas proteinases.
Stashak (2003) ainda descreve estudos realizados em humanos, onde, verificou-se que a expressão de RNA mensageiro para colagenase e o escore histológico de inflamação foram diminuídos após a administração de Triancinolona na articulação, mas o corticosteróide não suprimiu as atividades da estromilisina, que ativa as células sinoviais de eqüinos, in vitro.
O mesmo autor ainda relata que a perda progressiva de proteinoglicanas, colágeno e síntese de proteínas só foram observados em aplicações de altas dosagens de corticosteróides, por períodos superiores a doze semanas.
O hialuronato de sódio mostrou grande vantagem em seu uso sobre os corticóides puros. Foi demonstrado que o ácido hialurônico age como um lubrificante por contigüidade das membranas sinoviais e também foi proposto que ele influencia a composição do líquido sinovial por interferência espacial.


Henrique Noronha
Médico Veterinário CRMV RS 09144
henrique@pampacomecial.com.br


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terça-feira, 24 de julho de 2007

LAMINITE

A laminite ou “aguamento”, como é popularmente conhecida, é um processo inflamatório que acomete o tecido laminar dos cascos, normalmente nos membros anteriores, mas podendo atingir os quatro membros ou mesmo apenas um membro. É uma das mais sérias e mais freqüentes perturbações músculoesqueléticas que acomentem o casco dos eqüinos.
A causa da laminite ainda não foi determinada, porém, diversos fatores de risco, que podem ser variáveis, produzem alterações isquêmicas nas lâminas dérmicas e no córion laminar do casco, que parecem ser o “start” para o aparecimento da doença em várias espécies domésticas. Estes fatores seriam, distúrbios do trato digestivo como “cólicas”, diarréias, alimentação com quantidade exagerada de grãos (ração), traumatismos associados a concussão excessiva dos cascos, excesso de trabalho, transporte ou ficar “em pé” por longo tempo, sendo também ligado ao tipo de solo (duro).
Uma das mais frequêntes causas, é a ingestão súbita de grande quantidade de alimentos densos, palatáveis e ricos em energia, tal como grãos de cereal (ração).
Teóricamente, a laminite é dividida em fase aguda e crônica, sendo a primeira fase a mais importante para um tratamento de sucesso, pois ainda não aconteceu a rotação da terceira falange (distal).
Os sintomas da laminite por grãos surgem normalmente de 12 a 18 horas após a ingestão dos grãos. Após este período, aparece a laminite, diarréia, toxemia, tremores musculares, aumento da pulsação e respiração, com uma elevação variável da temperatura.
A forma aguda da laminite caracteriza-se pelo aparecimento brusco dos sintomas, predominando os sinais de locomoção penosa e lenta devido a dor. Quando os dois membros anteriores estão afetados, o animal adota uma atitude característica com extensão dos anteriores, apoio em talão, avanço dos posteriores, deslocando o eixo de gravidade do corpo para trás, dando a impressão de que vai cair “sentado”.
A rotação da terceira falange é um dos principais problemas associados a laminite crônica. Após a necrose isquêmica, agrava-se o rebaixamento e a rotação da falange distal, que praticamente perde a relação de sustentação com o córium laminar. A falange distal sofre ação do tendão extensor digital comum, compressão da sola no sentido ventro-dorsal e tração de tendão flexor digital profundo, alterando sua relação de paralelismo com a muralha do casco.
O diagnóstico é relativamente simples, visto que a atitude típica do animal, a pulsação aumentada das artérias digitais, o calor no casco e a dor evidenciada pela pinça dos cascos, na fase aguda, fornecem provas adequadas de laminite. Já a laminite crônica é evidenciada pelas alterações características na pata e um andar típico. Em diversos casos, a causa é difícil de ser determinada. Seja qual for a situação, a laminite sempre deve ser considerada uma EMERGÊNCIA MÉDICA, sendo que o sucesso do tratamento está diretamente ligado ao tempo em que o tratamento foi iniciado, devendo ser sempre antes do inicio da rotação da terceira falange, nas primeiras 12 horas após o surgimento da claudicação.
Antiinflamatórios não esteróides são largamente utilizados, estes objetivam a eliminação da dor, o que constitui um importante estímulo simpático agravante da hipertensão, da formação de “shunts” arterio-venosos e da vasoconstrição podal.
Somado as terapias medicamentosas, recomenda-se o uso de equipamentos que venham a auxiliar na melhora da perfusão sanguínea do membro afetado e para impedir ou corrigir o rebaixamento e a rotação da falange distal, estes equipamentos são ferraduras em forma de coração, palmilhas de compressão de ranilha, ou ainda o gessamento de apoio dos membros.
Existe uma nova forma de tratamento auxiliar, que consiste na utilização de placas de isopor de alta densidade, onde uma placa com o tamanho aproximado do casco é colocada sob a sola e fixada com “silver-tape, fundindo um molde de impressão negativa. Esta porção deve ser recolocada, e uma nova placa como a primeira é colocada abaixo, e ambas fixadas com “silver-tape”. Esta segunda placa deve ser substituída de um a três dias, até que desapareçam os sinais de dor e possibilidades de rotação da terceira falange, o tempo de troca das placas deve ser determinado pelo estado de conservação em que se encontram e pela amortização da dor que devem proporcionar quando em bom estado.



Henrique R. Noronha
Médico Veterinário
Sócio diretor da Pampa Produtos Veterinários.
henrique@pampacomercial.com.br