sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CONVÊNIO EQUINE CLINIC E FUNDAÇÃO CULTURAL CAVALGADA DO MAR 2012

                A EQUINE CLINIC firma convênio com a FUNDAÇÃO CULTURAL CAVALGADA DO MAR para prestar serviços médicos veterinários já nesta próxima edição do evento, que ocorrerá do dia 10 ao dia 18 de fevereiro entre as praias de Dunas Altas e Torres, percorrendo um percurso de aproximadamente 250 quilômetros.
                De acordo com determinações do Ministério Público, através da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, na pessoa do Promotor Dr. Carlos Roberto L. Paganella foi firmada com a Fundação um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, a fim de estabelecer parâmetros e normas que favoreçam o bem estar animal durante o evento.
                Para dar cumprimento a esta TAC e principalmente para proporcionar o “bem estar animal” aos cavalos participantes do evento, bem como para informar os cavaleiros e proprietários do teor e da importância deste assunto, que a EQUINE CLINIC realiza este convênio com a FUNDAÇÃO.
                A EQUINE CLINIC irá disponibilizar para o evento uma equipe de Médicos Veterinários e estagiários para fazer a inscrição e identificação dos cavalos e cavaleiros. Os cavalos receberão uma fita lacre (pulseira vinílica) com uma numeração única, que será atrelada a identificação do proprietário e/ou responsável pelo animal. O animal que portar esta fita terá direito a atendimento médico veterinário (clínico) de emergência, durante todo o evento, sempre através de postos de atendimento montados nos acampamentos do evento.
                A EQUINE CLINIC irá cobrar R$20,00 (vinte reais) de inscrição por cavalo, para dar viabilidade ao projeto, e em troca, os proprietários e/ou responsáveis pelos animais, tem direito a atendimentos veterinários (clínicos) de emergência, durante o evento, de forma ilimitada, tendo despesas extras apenas se houver necessidade de utilizar algum medicamento ou exames complementares.
                Este convênio celebrado entre a FUNDAÇÃO e a EQUINE CLINIC mostram a preocupação e a dedicação das duas entidades sobre o “BEM ESTAR ANIMAL” e sobre a importância cultural deste evento!

Henrique Noronha
Médico Veterinário

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Cesar Passarinho não morreu!

                Pasmem! O Cesar Passarinho não morreu! O vi cantando ontem a noite, a mesma canção que ele defendeu na sua última participação em uma Califórnia!
                Muitos sentimentos, emoções, realizações! Tudo estava em voga aquela noite. A reunião era modesta no estilo, não no motivo, nem no conteúdo! A razão era celebrar o lançamento e o sucesso do CD alusivo aos 100 anos da ETA (escola Técnica de Agricultura, de Viamão), a primeira do país neste segmento, e quiçá projetar um Festival para o ano que vem!
                Estavam ali reunidos professores, funcionários e alunos da escola, somados ao payador Araby Rodrigues, alguns compositores, músicos e outros profissionais da música e da cultura gaúcha. E eu, só de metido. Por que na música, tenho talento só para ouvir!
                A vida nos reserva momentos que nenhuma imagem é capaz de retratar na intensidade que ocorrem! Após as homenagens merecidamente ofertadas pelos professores Carpenedo e Alexandre “Trambelho” Nessy, foi dada a largada para a tertúlia que informalmente se formava.
                Melhor largada, impossível! Os versos de D. Araby, amadrinhado pelo violão de Carlos Madruga! Em versos singelos e puros, este mestre da arte pajadoril relatou a importância da amizade, dos ali presentes e principalmente dos 100 anos de história da ETA. Depois da payada, uma poesia, com a mesma pureza, fez abrir o coração de todos para o que viria a seguir, o momento alto, o momento mágico da noite! O Cesar Passarinho nos dando mais uma chance de assisti-lo!
                Quando o Madruga se apresentou anunciando que música cantaria, surgi rapidamente entre o público, meu amigo e excepcional músico Zé Blanco, montando sua flauta as pressas, para fazer-lhe um costado e relembrar aquela Califórnia! Adivinhem: o tema era “Canto de Ausência”, letra de Armando Vasques e música do próprio Madruga.
                Embora alguns tenham visto o Madruga cantando, era só ilusão! O Madruga só estava tocando violão, por sinal, com maestria ímpar! Junto ao sopro dolente da flauta surgiu um canto levemente rouco de calhandra, e era o Passarinho sim, tenho certeza!
                               “se eu me for o que será de nós
                               Quem vai domar os potros, recorrer a invernada
                               Quem vai servir meu mate, me amar na madrugada
                               Se eu me for o que será de mim, o que será de ti
                               Se eu me fizer estrada...
                Além do violão, da flauta e deste pássaro cantor, nada mais se ouvia! Só o silêncio, quase uma reverência, tomava conta da noite!
                               ...quando ao longe gritar o quero quero
                               Por certo lembrarás que ainda te quero bem
                               E da varanda tu olharás pra o campo
                               E me verás chegando, mesmo sem ver ninguém...
                Obrigado Trambelho e Dionathan pelo convite, Eudes, Carlos Moacir e Inácio Guerreiro pela parceria.
Obrigado Madruga e Zé Blanco por nos permitirem mais está chance de assistir Cesar Passarinho, a Calhandra Imortal das Califórnias!
                ... se eu partir o que será de ti
                O que será de mim, quando tivermos sós!


Henrique R. Noronha

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Respeito - Leandro Araujo

Ao contrário do que muita gente pensa, os homens que viviam no campo, mesmo nos recantos mais distantes da civilização urbana, sempre foram muito vaidosos. Não a vaidade baseada no consumo ou padrões de beleza como vemos nas comunidades cuja mídia dita as maneiras de vestir e andar, mas uma vaidade relacionada ao meio em que o homem estava inserido e as ferramentas que facilitavam a interação com este meio.


Era vaidade temperada com orgulho. Era a faca que cortava mais, um artefato de couro bem acabado, o cavalo mais rápido, a arma de melhor pontaria, um enxame de abelhas que deu mais mel, o maior peixe pescado em uma pescaria ou outras coisas que para nós hoje não tem significado algum, mas que nos tempos do vô Cungo tinham uma importância cabal.

Sempre via os olhos do vô brilharem quando contava a respeito daquilo que lhe davam orgulho, que o deixava maior ou melhor diante dos amigos ou das comunidades onde estava. Dentre estes “mimos” houve muitos cachorros. Bons de caça ou para a lida do gado, era com uma alegria de guri que contava de casos onde um cachorro afundava no rio agarrado a um capincho e só voltava à tona com o bicho junto. Quantos cães ele teve que valiam mais que uma pessoa no trabalho com a pecuária, ou então que eram apenas bons companheiros para camperear ou para tomar mate no galpão. Dentre tantos animais fantásticos, tinha um que lhe embaçava os olhos sempre que contava de suas proezas. O nome do cão: Respeito.

Respeito foi um dos cachorros que mais tempo acompanhou o vô Cungo. Era tão bom que outras pessoas que viviam no interior de Alegrete costumavam mandar seus cães para ficar alguns dias com ele para aprender a caçar ou lidar com o gado com a mesma eficiência e maestria. Caçava tatus e capinchos como nenhum outro cachorro nas redondezas. Brigava com um “mão-pelada” de igual para igual e, por mais de uma vez, alertou o vô a respeito de cobras venenosas que estavam pelo caminho ou em volta da casa.

Na lida campeira agia tal qual um peão experiente. Na mangueira apartava o gado com apenas um comando de voz. Tropeando, não precisava nem mandar quando uma rês se desgarrava, tratava logo de trazê-la de volta à tropa.

Parceiro de todas as horas, jamais latira para criança nenhuma, muito pelo contrário, era bastante paciente com a gurizada. Costumava deitar em silêncio durante a hora do chimarrão, e à noite era um sentinela vigilante, sempre atento a movimentos estranhos ou ataques dos sorros, os quais já havia matado três que vieram roubar galinhas durante a madrugada.

Resumindo, podia-se dizer que Respeito era a personificação da lealdade de um cão com seu dono.

No entanto, quem vive no campo sabe que convivência entre homens e animais é delimitada por uma tênue linha, que muitas vezes pode se partir sob a menor tensão. Os animais campeiros são funcionais, sejam cavalos, bois ou cachorros. A submissão é necessária, pois muitas vezes há necessidade de algo que vá além da confiança, pois a produtividade do pequeno produtor é essencialmente de subsistência, e qualquer quebra da ordem natural pode representar um prejuízo à família. A relação homem X bicho jamais se sobrepõe ao interesse da estabilidade familiar. Existem casos extremos de histórias de pessoas que tiveram que sacrificar animais de estima para que seus entes pudessem se alimentar, ou então que mataram animais de casa porque estes estavam representando algum risco à integridade das pessoas próximas.

A história do cão chamado de Respeito não termina da forma mais bela, e aqui talvez não caiba julgamento sobre o que seria certo ou errado em seu desenlace, mas uma reflexão a respeito do rígido código de moral e ética que compunha a formação destes homens, mulheres e crianças que viviam em um universo completamente alheio ao que vivemos hoje em dia.

Continuando a história, é de conhecimento de todos que no interior as pessoas têm o costume de “sestear” à tarde, logo após o almoço. Hábito esse que faz parte da cultura destas pessoas desde que existe campo. Visto que depois da sesteada daquele dia o vô Cungo não enxergou o Respeito nas proximidades da casa, logo pairou uma desconfiança no velho campeiro. Nos quatro dias seguintes o fato se repetiu; durante a sesta o Respeito desaparecia, e voltava a reaparecer horas depois. Chegava de cabeça baixa, com o rabo entre as pernas, se enfurnava no galpão e lá ficava como que se escondendo após ter cometido um erro imperdoável.

Vô Cungo não teve dúvida, e naquela sexta-feira chuvisquenta de agosto ficou observando de longe seu cachorro, e seguiu-o discretamente para ver qual o destino de suas fugas diárias. Viu-o entrar em uma grota que ficava há uma centena de metros da casa e mansamente enfurnou-se naquele pequeno universo formado por sombras e verdes. Os olhos do Cungo encheram-se de horror quando viu a cena: embaixo de uma aroeira, Respeito estava envolto em um cenário de sangue, lã e restos de cordeiros recém mortos.

Fantástico texto escrito e gentilmente cedido por Leandro Araujo, publicado anteriormente no blog do autor:
http://blogdoleandro.arteblog.com.br/184985/Respeito/